segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Despedida

 Sentei- me para escrever - te uma carta.

Tuas malas estão feitas.

A cada linha de pensamento, uma história da nossa trajetória se desfaz e refaz.

Quantas palavras, passos e desejos perdidos nessas ruas estreitas.

Relembro suas promessas de tempos atrás.

Soltaram- se as linhas costuradas desse bordado do nosso caso.

Meus dedos firmes que vc largou ao descaso.

A covardia vestida e pintada de amor.

As punhaladas vieram marcando muita dor.

Te despejar já era a intenção.

Ninguém suporta tanta ingratidão.

Fiz- me de forte perante teu olhar.

Sorri sem vontade, conversei sem maldade, mas estava a desmoronar.

Quando fechar o envelope, não espero despedidas.

Tu não me destes nem a sinceridade tão pedida.

Depois da carta, sentimento jogado fora, aprenda a lição.

Hoje é o meu, amanhã, quem partirá será o teu coração.


sábado, 19 de agosto de 2023

Afogamento

 Saudade de sentir.

Me sinto meio morta ás vezes.

Como se aquela parte cheia de sentimento

Não tivesse mais pertencimento.

Não consigo mentir.

Me sinto meio dormente ás vezes.

Como se aquela parte pulsante cheia de células

Não tivesse linhas paralelas.

Sou toda afogamento.

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Tentativa

 Você me chama para conversar 

Mas esta sempre rodeado de pessoas, assuntos, telas, pensamentos.

Seus olhos vazios fingem se interessar

Sua boca curva-se em sorrisos quase simpáticos.

Sinto um abismo em métrica a nos empurrar.

Você me indaga amenidades em diálogos

Mas esta sempre rodeado de fugas, cansaço e tecnologia.

Sua respiração preenche a presença física que deveria se importar.

Sinto que minhas palavras proferidas são afrontosas.

Deveria brindar-lhe com respostas monossilábicas ou meu silêncio.

Porque travamos essa farsa interativa?

O interesse é tão sedutor quanto a consideração.

Estimar alguém é dar-lhe um pedestal de importância ímpar no quarto dos afetos.

E quem tu estimas além das futilidades passageiras que personificas?

Sinto seus olhos vazios como suas mãos ausentes

Desprovidos de total vontade, vínculo ou verdade.

Você quase me convence que estas ali, diante de mim.

Mas estas tão longe quanto o meu coração que se afasta, recolhido em dor, rejeição e repulsa.

Porque insistimos?

Cada encontro é como tentar pegar uma rosa e esquecer que é rodeada de espinhos.

Não existe poesia sem agressão em vc, ou talvez minha poesia se revolta em agressão pela sua presença.

Debate-se como se tentasse soltar as ataduras impostas por cada encontro frustrado.

Novas feridas misturam-se as velhas e assim nunca sabemos onde começa ou termina esse emaranhado de cortes e fissuras.

Saio de perto de ti com a sensação de dever cumprido.

Mas logo o fracasso me abraça trazendo o gelado arrependimento, a dor da tolice e as pontadas da ingratidão.

Tu jamais irá reconhecer meu afeto, puro, simples e desinteressado.

É como tentar trazer vida a uma flor que já ressecou pelo tempo.

Gastou-se a vida de sua seiva, esvaiu-se com cada tentativa inútil.

Só resta-me parar de tentar te alcançar.

Mas basta eu me afastar e logo sentes minha ausência.

Costume, ego ou fingimento?

Seu vazio não foi preenchido repentinamente de mim, como um copo abastecido de água a um sedento.

Onde me esqueceste? Onde me enfiastes? Qual fresta fui deixada?

Não me vejo ocupando nenhum espaço.

Queria ver sinceridade, a mesma que dedicas aos outros.

Ás vezes sinto que fui perdida em teus livros.

Gosto de morar lá em tuas linhas com tanto carinho e afeto, mais do que dedicas as pessoas.

Lá sinto-me hidratada de uma luz, de uma importância quase angelical.

Olho as pilhas que te cercam de publicações, como corredores, cercando, isolando, moldando espaços entre nós.

Porque me tomas nessa conversa?

O tempo sempre ri debochado, de mim em desalento, de vc abandonado.





segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Sentimos

 Quando tentei tocar sua mão, tantas vezes, recebi o vazio, seu silêncio avassalador.

Hoje você diz que me ama, com a força maior que a própria confissão.

Será o abismo do silêncio, catártico como a dor?

Senti, sentiu, sentimos.

Quando busquei sua voz, suas palavras para não cair, recebi o vazio, sua ausência decepcionante.

Hoje você diz que sou o sol na sua vida nublada.

Será a minha ausência emocional cortante como uma navalha?

Antagonismos dançando em suas mensagens só fazem meus olhos piscar.

Meu cérebro não tem vontade em interpretar.

Quando tentei te alcançar, achei que tocara seu coração. 

Mas a sorte era um golpe de ilusão.

Hoje você diz sem pronunciar, a importância que eu quis tanto acreditar.

Mas suas palavras não ditas parecem não me alcançar.

Sentimos.


sábado, 24 de dezembro de 2022

Boas Festas

 Eu queria começar dizendo que adorei te conhecer mesmo antes de vc dizer oi. 

Neguei isso mesmo com o coração disparando nos ouvidos. 

Meu pensamento rodopia e bate na porta do juízo dizendo: diga apenas que deseja boas festas, simples, formal mas nem tanto, não dê margens.

Mas são nas margens que eu navego, aprofundo e toco o chão do meu fundo tão complexo. 

Dou tantas voltas nessa piscina atlética quanto a velocidade do meu pensamento geminiano.

Queria dizer que a simples palavra “conexão” puxou o fio do novelo. E embora eu tente cortar, enrolar, jogar fora, permanece voando a ponta sob os meus olhos, pq os dedos se negaram a tocar.

Vou dizer alguma coisa pra vc? Provavelmente não. Sempre que eu sou eu o resultado é a ruína.

Eu queria dizer que “alguma coisa” também se perde e a vida é feita de escolhas, mas soaria tão óbvio e clichê quanto a tal conexão.

Não sei não ser eu, ainda estou tentando não me jogar, mesmo com os dois pés a beira da borda.

Colocar aquela frase que eu adoro e vem fazendo cada vez menos sentido, se tem vontade, faça; na lata do lixo.

Era pra te dizer que não estou esperando nenhuma linha de volta porque o novelo ainda está sob os meus dedos imaginários e a outra ponta sabe Deus se vc segurou. 

Não é disputa, mas o movimento é importante.

Eu vou terminar não dizendo nada a vc. E nada tem a ver com merecimento.

Quando eu pensei em escrever, era pra ser leve, despretensioso…mas pode carregar um pedaço meu que eu não estou disposta a dar. Ainda.

Quando penso na palavra coragem, hj, penso em mim, respirando fundo, olhando nos olhos, sem as margens, sem os pés na borda, somente ali, existindo, sem preocupações com o tempo, as subjeções. 

Por isso o eu atual sequer vai dizer boas festas. Com todas as margens saltando no meu cérebro, os pés loucos na borda.

Sinto muito. 

Boas Festas não ditas.


quarta-feira, 27 de abril de 2022

Inexistência

Como dança de balé suspenso, sinto você orbitar em mim.

Na embolada do tempo você sussurra em meus ouvidos: 

- Estou cada vez mais perto. Tão perto.

Sinto seu calor, sua presença.

A energia se dissipa e duvido de tal crença.

Brado sua inexistência.

Que faço eu com tuas sensações?

A presença forte que me atravessa as emoções.

Debato-me entre chegue e parta.

Aquilo que me consome, afaga sem nome, quase me mata.

Puro desejo, instinto que pulsa, treme e logo acalma.

Como o carinho da sua mão na minha aflita alma.

Meu olhar busca desesperado.

O coração sussurra quase envergonhado:

- Te quero tanto entrelaçado.

Sinto sua risada, seu olhar.

A energia queima e a boca chega para silenciar.

Pisco confusa, meu cérebro está a pifar.

Teu gosto a um milésimo.

Brado sua inexistência.





Companheiro papel

 Antes de te colocar nesse papel, pensei mil vezes em como te personificar.

Como expor as minúcias do que vc é, representa e causa em todo o meu manifestar.

Transformar essa grande massa em corpo, figura física sem expectativas e decepções.

Se eu mesma vivo a voar nas minhas delirantes emoções.

Quando penso em transformar-te em alguém, fica mais difícil que transcrever o que sinto.

Loucura pensar que o sentimento é menor que a tua carne.

E que me adianta pensar nas mais pequenas idiossincrasias vale? 

No fim das contas a imensidão de você me invade, rouba e arde.

Impossível te armazenar em espaços.

Nem mesmo a idealização de um ato cortariam nossos laços.

Antes de você tudo era simples e rabiscado em normalidades.

Papel satisfazia os arroubos da idade.

Quilômetros de megabyte vieram surpreender células, músculos e razão insistia em gritar.

Não cabe, não tem espaço, nem idade, se limite em pensar!

Portanto querido papel como te pintar de você?

Dedos trêmulos tentam engrandecer, fechando os porquês.

A imaginação ri descontroladamente e zombeteiramente.

Que audácia dessa menina indolente!

Antes de te colocar no papel tento reunir todas as páginas como estrelas no céu.

Só consigo sentir meu companheiro papel.